domingo, maio 28, 2006

Permitam-me o delírio II

Majestosamente enrodilhada na minha mantinha de estrelas (embora febril, asseguro que a manta tem realmente estrelinhas e de várias cores…), desde quarta-feira que deliro na vontade de partilhar absurdos… Ao rejeitar quase todos os tipos de luz e som, com curtos períodos sem dores de cabeça, espirros e o admirável pingo ao nariz, enquanto permaneci acordada bebi chaleiras e suspirei por alternativas aos nossos fantastic four nacionais e a uma internet que desligava mais do que ligava… A minha linha de raciocínio nunca foi muito normalzinha, então com a broa já a Merche dançava com o Goucha enquanto o Donaldim cantava bêbado naqueles septetos alegres…Salvaguardo aqui alguns dos músicos, que não têm culpa de muitas das escolhas feitas e de quem sou amiga, com muito gosto e alguma inveja, porque ganham dinheiro com’ò ca*****. Entre o desfilar das pseudo celebridades a comentarem as dietas e os “não perca o caso da Graça a quem o marido obrigou a prostituir”, só conseguia pensar nos meus pais, sortudos de férias nos Açores. Como não posso fugir de férias, não tenho um emprego esfábuloso, e a realidade que me espera é dura, permitam-me este delírio, de uma pausa rinítica forçada, que veio no fim e por bem proporcionar-me algum espaço à surrealidade. Não posso deixar de falar no Deadline Now, oficialmente by Von Magnet for Persona, porque embora não considere este tipo de fronteiras na criação artística concreta e justamente definível (criado por, interpretado por, para,), conhecendo as pessoas envolvidas e a sua forma de estar e trabalhar em projectos de residência, portanto em comum, associei preferivelmente o termo for a um presente: criado por Von Magnet para ou dedicado a Persona… Já apelidado de longo, repetitivo e, o que tenho de concordar: perturbante; questionado o local, etc.… A minha única questão e indignação, continua e cada vez mais a prender-se com a falta de respeito demonstrada por a quem de direito caberia promover, apoiar e divulgar uma companhia que, mais do que “Feirense”, e já chega de bairrismos bandeira inúteis (presentes envenenados!), se qualifica artisticamente a duras penas e custos a nível internacional… Cada espectáculo vale pelo que faz sentir e esta perturbação que me pareceu comum entre o público não é de todo gratuita e casual. É fruto de um trabalho cuidadosamente estruturado “em companhia” a nível conceptual, a nível de trabalho físico de actor, a nível musical (Phil e Flore com composições originais e interpretações ao vivo), e a nível de imagem com projecção e manipulação até em directo, etc… Para terminar, criar e montar um espectáculo desta envergadura em regime pós laboral e com duas residências onde é exigida a entrega incondicional e a tempo inteiro, merece mais do que tem recebido. Sejam os tais apoios formais, seja até alguma leviandade com que muitas vezes, as suas obras são recebidas pelo público (algumas até antes de existirem…). São homens e mulheres com toda a sua carga profissional, familiar e humana, que respondem num esforço sobre humano e com laivos de brilhantismo, ao chamamento da arte e do palco. Aqui fica a minha homenagem. Vivam, Persona!

6 comentários:

Isabel Vieira disse...

obrigada pelo apoio, lucinha e...
...as melhoras

Sílvia Silva disse...

e depois de tudo...são pessoas como tu, peles de um público que sente...que justificam tudo! É um prazer único, este que nós temos, acima de tudo um previlégio, de pisar um palco e provocar emoções! Obrigada Lucinha, muitos beijos

Pedro Lino disse...

eu sei que tú sabes aquilo que sabes que eu sei...

beijo

Azeitoninha disse...

De facto tem que se louvar o trabalho dos Persona. Independentemente de ter gostado ou não da peça ficam desde já os meus parabéns aos actores :)

Quanto a ti linda, as melhoras e vai-nos contando mais delírios :)

Beijinhos

Anónimo disse...

Muito Obrigada, Lúcia.
(acendeste um secreto sorriso de orgulho no meu quotidiano)
Que as estrelinhas te sorriam sempre.. e que o pingo do nariz seja abafado por estes dias de calor.
Beijocas

FPM disse...

só conheci o blog depois do link deixado no meu. gostei muito do espectáculo, intenso, que nos põe a reflectir sobre o nosso dia-a-dia frenético e muitas vezes sem sentido, excelente música, fabulosa a ideia de o colocar perto de uma catedral de consumo, vampirando-lhe o parque de estacionamento, e excelente aproveitamento da rotunda com o duplo palco. fui pelos von magnet, que tinha visto em montemor há uns anos, e peço desculpa pelo pouco destaque dado aos persona, mas ao "anunciar" o espectáculo desconhecia o grupo e depois de o ver, como parte do público, e como escreves aqui, não sabia quem tinha feito o quê se os persona se os von magnet e penso que isso é sinal da boa colaboração. angariei para o espectáculo de sábado (que repetiria não fosse convidado de um casamento) um conjunto de amigos e conhecidos, mas não sei o feedback, não falamos entretanto. conheço vagamente a cena aqui no porto e sei das dificuldades por que passam as companhias, imagino que aí não seja melhor. força para todos, espero que haja melhor promoção da próxima vez.